Ex-delegado executado no litoral disse que nunca foi ameaçado pelo crime organizado; ÁUDIO
16/09/2025
(Foto: Reprodução) Ex-delegado executado no litoral de SP disse que nunca foi ameaçado pelo PCC
O ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo Ruy Ferraz Fontes, executado a tiros na segunda-feira (15), disse em entrevista a um podcast da CBN e do jornal "O Globo" que ainda não foi ao ar que nunca havia sido ameaçado em razão de suas investigações contra o crime organizado. A fala aconteceu há duas semanas. (ouça áudio acima).
"Nunca. Nunca fui ameaçado", afirmou Ruy.
"Teve uma conversa só meio atrapalhada com o Marcola [Marcos Camacho, chefe do PCC], mas nunca teve um desenrolar negativo. Mas nunca, nunca. No mundo do crime, existe uma ética, e essa ética é cobrada, de uma forma geral", completou o ex- delegado.
"Em que momento nós instruímos um inquérito policial e inventamos alguma prova contra eles? Se tinha prova, a gente relacionava lá e depois ia depor em juízo para certificar essa prova. Nós não inventamos prova. Então, é a ética", continuou.
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"Ele é criminoso? Ele pratica crime? Eu sou da polícia, eu investigo. Fiz alguma coisa errada para obter essa prova para investigação? Não", apontou Ruy.
No entanto, o delegado lamenta o fato de não ter nenhum tipo de segurança especial, mesmo tendo atuado durante décadas no combate ao crime organizado:
"Eu estou aposentado. Eu tenho proteção de quê? Eu moro sozinho aqui, eu vivo sozinho na Praia Grande, que é o meio deles. Para mim é muito difícil. Se eu fosse um policial da ativa, eu estava pouco me importando. Eu teria estrutura para me proteger. Hoje, eu não tenho estrutura nenhuma. Não tenho estrutura nenhuma."
A Polícia Civil informou que delegados-gerais aposentados podem solicitar escolta após o fim da carreira, mas afirmou que Ruy não pediu pelo serviço.
O ex-delegado-geral atuou há mais de 20 anos na prisão de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, e no combate ao Primeiro Comando da Capital (PCC) no estado. Foram mais de 40 anos na polícia.
A investigação tem duas suspeitas principais para a motivação do crime:
Vingança em razão da atuação histórica de Ruy Fontes contra os chefes do PCC
Reação de criminosos contrariados pela atuação dele à frente de Secretaria de Administração da Prefeitura de Praia Grande
Ele estava aposentado da corporação e assumiu, em janeiro de 2023, a Secretaria de Administração de Praia Grande.
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Mobilização total da polícia
Ruy Ferraz Fontes durante evento da cúpula da Segurança Pública de SP em 30/11/2018
TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO CONTEÚDO
Ruy Ferraz sofreu uma emboscada enquanto dirigia o seu carro na cidade litorânea. Câmeras de segurança gravaram o momento em que criminosos em um carro perseguem o veículo da vítima, que bate em um ônibus. Em seguida, o grupo desembarca do automóvel e atira em Ruy (veja vídeo nesta reportagem).
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) determinou mobilização total da polícia com a criação de uma força-tarefa para identificar os assassinos.
A força-tarefa, segundo Tarcísio, envolverá o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) e o Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), principalmente. Ambos os departamentos contam com policiais que têm muitos informantes no crime organizado e que podem ajudar a elucidar a execução de Ruy.
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Criminosos atiraram mais de 20 vezes em atentado contra delegado
Veja o passo a passo da execução do delegado
"Estou em choque, fui o último a falar com ele [por telefone]", disse ao g1 Marcio Christino, ex-promotor . Christino atuou no combate à facção e seus chefes, no início dos anos 2000, ao lado de Ruy, que à época era delegado no Deic, na capital paulista. Atualmente, ele é procurador de Justiça.
Formado em direito pela Faculdade de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, Ruy se tornou delegado e começou a investigar o PCC no início dos anos 2000. Entre 2019 e 2022, foi indicado pelo então governador João Doria, à época no PSDB, para comandar a polícia.
Ele também atuou no DHPP, no Departamento Estadual de Investigações contra Narcóticos (Denarc) e no Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap).
"[Ruy] foi uma das pessoas que prenderam o Marcola ao longo da história do PCC, que esteve passo a passo nesse enfrentamento ao PCC, e ser executado dessa maneira. Isso mostra, infelizmente, o poderio do crime organizado", disse Rafael Alcadipani, professor da Faculdade Getulio Vargas e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Infográfico - Dr. Ruy Ferraz é morto a tiros em praia Grande
Arte/g1
Ex-delegado-geral de SP é assassinado no litoral de SP